Há alguns meses, o pacato bairro Generoso, localizado em Corumbá, município de Mato Grosso do Sul que faz fronteira com a Bolívia e o Paraguai, não é mais o mesmo. Além de conviverem entre si, os humanos que habitam a área urbana às margens do Rio Paraguai também precisam dividir as ruas com pelo menos uma onça-pintada – o número pode ser maior.
Avistamentos frequentes e ataques recorrentes a animais domésticos levaram quem reside naquele bairro, próximo ao Mirante da Capivara, a se trancar em casa. Com medo da onça (ou das onças), nem à pracinha ao final da Rua Marechal Floriano eles têm ido.
Essa reclusão, voluntária, mas necessária, tem causado frustração e feito os corumbaenses se sentirem em uma espécie de prisão domiciliar como forma de se proteger de algum incidente com o animal silvestre.
Para conferir o cenário de perto, a reportagem do Jornal Midiamax esteve no bairro Generoso na manhã desta quinta-feira (5) e conversou com vários residentes. Por lá, o relato é unânime: cachorros de toda a vizinhança estão sendo devorados pelo felino de grande porte e, apesar de parecer conversa antiga, quem vive no local há mais de meio século afirma nunca ter testemunhado nada semelhante.

Onça aparece com frequência em pracinha: ‘Estamos presos’
Jocinéia dos Santos, de 51 anos, é uma cozinheira que habita o Generoso desde que nasceu. Segundo ela, esta é primeira vez que presencia a circulação constante dos felinos no local. Depois do ataque de uma onça ao caseiro Jorge Ávalo, em abril deste ano, em outra área do Pantanal sul-mato-grossense, Jocinéia acredita que, além de se proteger, também precisa adotar protocolos para manter os netos e pets em segurança.
“A gente fica com muito medo, as crianças não gostam de ficar presas. Nem à pracinha podemos ir mais, descendo aqui embaixo, onde ela aparece com frequência. No final da tarde sempre íamos lá tomar tereré”, lamenta a mulher.

Cozinheira de fazenda, Diana Silva, de 36 anos, confirma que ao menos uma onça praticamente virou moradora do bairro. Ao menos uma porque o número não é confirmado e representantes de uma entidade ambiental que atua na região acreditam que pode haver mais de um felino promovendo ataques aos pets das redondezas.
“Estamos assombrados, principalmente porque temos crianças. Na cidade, assim, nunca tinha visto como tem sido aqui. Está difícil a gente querer ir à praça porque ela está andando por ali e tem atacado muitos cachorros”, comenta.

“Nunca imaginei viver isso”
No caso de dona Clara, que mora no Generoso há quatro décadas, não é diferente. No final do mês de maio, ela teve a residência invadida pela tal onça, que atacou uma de suas cadelas. “Agora ficamos presos, não saímos mais de casa, nem os cachorros”, declara. No dia em que o felino esteve no local, o pior só não aconteceu porque outras cadelas o espantaram. Câmeras de monitoramento registraram tudo e o ataque, inclusive, virou notícia nacional.
“Ontem (4) de manhã, o vizinho viu ela lá embaixo. Ela também atacou na casa da minha irmã, estava dentro do galinheiro. Moro aqui há 40 anos, nunca imaginei viver isso”, afirma.

A corumbaense ainda relata que a situação está muito complicada. Com o marido acamado, galinhas e pets presos, sua realidade tem sido ficar trancada dentro de casa. Além dela, seu irmão, que vive na mesma rua, já perdeu toda a criação de cabritos (14 ao todo) e dois cachorros para uma ou mais onças. Outra irmã de Clara, moradora da mesma via, também teve três cães devorados. Virou rotina.
Exemplo da coexistência entre seres humanos e animais, mas em ambiente urbano, nenhum deles tentou algo contra o felino — e nem pretendem, pois respeitam a natureza. Contudo, item estar com medo de serem atacados.
Como medida de proteção, a família comprou bombinhas para afastar a onça das residências. “Mas nem assim, ela já está acostumada com esse barulho”, comenta Clara.
População tem recebido orientação e provavelmente não há só uma onça no local
Ainda nesta manhã (5), enquanto a equipe do Jornal Midiamax circulava pelo bairro, a FMAP (Fundação de Meio Ambiente do Pantanal) entregava panfletos e fazia orientações aos corumbaenses sobre a convivência entre onças e humanos.
Arleni Morinigo, médica-veterinária, gerente do bem-estar animal da Fundação, conversou com a reportagem e disse que, depois das queimadas de 2019, as onças têm aparecido com mais frequência.
“Então elas acabam vindo pra cidade, aí não tem comida, não tem recurso, começam a invadir. Elas já estão acostumadas com as pessoas”, pontua.
A veterinária reforça que os felinos estão se locomovendo para dentro do perímetro urbano, atacando cachorros e mexendo nos lixos. Diante disso, algumas das recomendações primordiais são: usar barulho para afastá-los (como dona Clara e sua família têm feito), não deixar lixo espalhado e recolher seus animais.
“Provavelmente não é só uma onça-pintada. Em relação aos ataques e aparições, há algo em comum: todas as casas têm cachorros, que é o jeito mais fácil dela conseguir a presa dela”, finaliza a gerente da FMAP.

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